16 junho 2011

Pannjo, the Bartender - #10

De manhã agarrei na minha Harley-Davidson Forty-Eight, e pus-me a estrada. Deixei o meu telefone em casa. Para o bem e para o mal. Parti sem destino. Só eu. Dei por mim, a percorrer ruas da cidade que conhecia, a olhar para os traços da estrada. Para os sinais, para as pessoas, sem entender o que fazia eu ali. Acelerava. Saí da cidade e entrei na "route 66". Tinha o tanque cheio. Parei uma vez na estrada deserta. Só eu e o mundo. Não me apetecia voltar. Deixei a mota, perto da estrada, e pus-me a andar sem destino, na planície. Queria deixar o meu outro eu, onde quer que ele estivesse. Que morresse, se evaporasse como o vapor de um vulcão. Olhei para o relógio. Meia hora, de caminho já. Reparei numa casa, que estava plantada no meio do deserto. Fui até lá. Caminhava, pensando quem poderia ali morar, num ermo sem fim.
Uma casa de madeira, pintada de branco, acabada de  pintar. Com uma cerca, que cercava a casa e a terra. Igual a que estava fora da cerca. Se um jardim ali houvera, não havia sinal dele. Conseguia ouvir a televisão, que estava ligada. Bati a porta, e esta abriu-se. Ninguém respondeu. Entrei. Desenhos animados na televisão. Uma poltrona com alguém sentado. Devagar, levantou-se uma criança. Um rapaz com uns cinco anos. Loiro, de jardineiras e t-shirt vermelha. Aproximou-se de mim até dois passos dele. Olhou para cima, nos meus olhos, com os seu olhos negros. Acenei e disse olá. Perguntei pelos seus pais, se ele estava sozinho. O rapaz aproximou-se de mim, puxou pela manga do meu blusão de cabedal. Abaixei-me e ele sussurrou.me ao ouvido: " O que tu procuras não está nesta casa. Eu já estou morto." Olhou friamente nos meus olhos, e foi-se sentar na poltrona. Sai dali. E quando ia a caminhar novamente na direcção da mota, reparei que o mesmo rapaz estava sentado nela. Alguma coisa já não estava a fazer sentido. Algo me estava a escapar. Antes que pudesse falar com ele, desapareceu depois de olhar novamente para a casa branca. Sem parar consumia alcatrão, ar e vento. Nada fazia sentido. Mas eu, também não fazia sentido. E eu era muito mais real do que aquela criança que me disse estar morta, naquela casa branca. Eu sentia-me morto, mas estava ainda vivo. Um paradoxo constante em mim. Ao menos aquele rapaz de cinco anos sabia a verdade. A minha verdade ainda não a encontrei. Talvez fosse isso a que ele se referisse. Talvez. Falta-me dizer-lhes o nome da criança, as suas ultimas palavras que me disse ao ouvido. " O meu nome é Alex..."

1 comentário:

Benedita disse...

Gostei... muito!