30 abril 2011

Pannjo, the Bartender - #7

Com as duas criaturas a minha frente, só tinha que saber como as matar. O instinto de matar, terminar a vida, fazia-me correr a adrenalina pelo corpo. Como um líquido azul escuro se apoderasse de de todo o meu ser. Ossos, carne, pele. Um estado de imersão fatal. Uma adrenalina de loucura permitida até ao limite de mim. Não foi difícil saber as suas moradas pelos números dos cartões de crédito com que pagaram as contas. Primeiro ele. Morava num apartamento na cidade. Prédios altos. 78º andar. Fui pelas escadas. A loucura de subir as escadas, parecia-me nada, comparado com o que iria fazer dentro de pouco tempo. Subia cada vez mais cansado, pelo meu corpo dorido. Pela minha cabeça vazia de ideias cancerosas e vorazes de sangue.
Abri a porta corta fogo das escadas que dava para o 78º andar. Parei por segundos, para respirar. Encostei-me a porta e bati. Sete toques. O inquilino abriu a porta. Dei-lhe um soco que o fez desmaiar. Agora, o resto. Atei-o a uma cadeira. Lembro-me que estávamos na sala, com uma vista escura e brilhante da cidade. Ele acordou e perguntou-me quem eu era. Achei que lhe devia pelo menos, contar a verdade. Depois de me ouvir e implorar que não o matasse, os seus gritos incomodavam os meus ouvidos habituados ao silêncio da minha fria casa. Tirei-lhe o cinto e amordacei-o. pela minha cabeça as ideias cancerosas e vorazes de sangue, repetiam-se. E o vazio era total. Fumei um cigarro, um cigarro que lhe dava mais tempo de vida. Que me acalmava a alma e o espírito. Decidi que não iria ser planeado. Que iria vaguear pela casa até encontrar a inspiração e os objectos necessários, para lhe tirar a vida. Música. Tinha que ter música. Pus um CD do Frank Sinatra. Sempre conferia solenidade ao acto. Comecei por uma faca da cozinha, fui ao W.C e agarrei no secador. Abri uma garrafa de vinho tinto, bom vinho... Com o cigarro ao canto da boca, o meu passeio continuava. Na dispensa encontrei detergente para lavar tapetes. Satisfeito com a escolha, voltei para junto dele. Espetei-lhe a faca no abdómen. Retorcia-se com dores. Despejei o detergente pelo seu corpo. Liguei o secador. Encostei-o na nuca, até queimar. Estava quase a passar a linha do real para o insano. Tirei a faca do corpo e numa dança, lenta ao som da música, comecei. Golpes em todo o seu corpo, sem olhar onde o atingia. Uma estocada fatal no coração, foi como terminou. Suava. Fui embora como vim. Mas com mais um pecado na alma. Sem uma parte de mim, que ficou naquele 78º andar.

Metallica - The Prince


24 abril 2011

Segunda feira, 25 de Aril de 2011

Quando muitas almas celebram este dia, eu emociono-me quando penso nas almas que lutaram para o ter. E tambem me lembro das almas que o desejaram. Onde estava eu no 25 de Abril? Sim, já era nascido. Estava de férias no norte, em casa dos meus avós maternos. Lá em cima a vida era calma e solarenga, longe do berço natal. O contacto com os animais do campo e todas as actividades a ele ligadas, abriam-me os horizontes para a subtileza e suavidade da terra. Em contraste com a vida dura das pessoas que ai viviam. O meu pai conta-me que soube do 25 de Abril quando chegou de uma tarde de pescaria. A alegria foi incontornável nos olhos. Eu não me lembro desse dia. Lembro-me de outros dias, das viagens intermináveis até chegar a aldeia. Onde a minha avó tinha o meu presente certo, frango na brasa. Um certo inverno tentei ir a fonte com um cântaro mas sem sucesso. A neve era alta demais para ir e voltar. Tenho na minha cabeças os melhores dias que já passei. Ali, onde eu estava no 25 de Abril.

17 abril 2011

Pannjo, the Bartender - #6

Adormeci. Sonhei um sonho. Pisava a relva verde de um paraíso. Riachos de água fresca e árvores verdes, muito verdes. Mas não ouvia nada. Nem a minha própria voz ouvia, quando comecei a gritar insanamente. A correr descalço, nú, por um paraíso sem som. Acordei enquanto gritava mudamente. Fui a correr para o espelho e gritei. Gritei para me ver gritar. Já não aguentava ouvir-me berrar pela casa e pensar porque no sonho não o conseguia. Tomei um banho frio. De noite ainda. Acendi incenso, que coloquei no chão perto da cama. Assumi a posição de lótus e comecei a meditar. Sobre um tapete preto de algodão. Afastava-me de todo o mal que eu sentia que era. Ia para o vácuo. Para o éter. Para um lugar vazio de tudo. A minha mente vagueava no escuro, no preto distante e imenso. Ali era onde me sentia bem. Tudo termina quando abria os olhos. Tudo recomeça quando saio a rua. quando vou trabalhar. Nesse lugar onde as vitimas aparecem desejando a morte. Não o desejam, mas é como se o fizessem. Eu não o consigo evitar. Nessa manhã cheguei ao bar como sempre ainda sem o sol ter nascido. A minha doença branca piorava. Tinha tonturas, e dores de cabeça frequentes. a minha visão começou a ficar mais a preto e branco. Algumas cores ainda as via, mas mais esbatidas. Nesse dia entrou no bar um grande grupo de amigos. Uma festa. Não sabia quem eram, soube-o depois. Fixei o grupo atentamente. Duas pessoas em lados opostos da mesa estavam marcadas com o x na testa. Nunca tinha visto duas marcas em simultâneo. Fez-me pensar isso. Fiquei pouco confortável como inesperado. Como o iria fazer? Mata-los ao mesmo tempo? Tinha que o fazer assim? Podia matar um agora e o outro amanhã? O que acontece se não o fizer? E se o fizer? O destino e eu seremos as testemunhas do que se passará a seguir...