10 maio 2010

Estou sentado no meu sofá creme

Estou sentado no meu sofá creme.
Milhares de pensamentos, linhas difusas penso, na minha cabeça.
Tento colar, atar, as pontas entre eles. Sem sentido. Sem conseguir.
Corro contra a imperfeição da mente. Contra o vento de frente.

Um correr feito de amargura, de paixão. De ar. Corpo.
Sou mais do que pensava ser. Infinitamente pequeno.
Descubro no meu rosto traços que não existiam.
Só pelo latejar do sangue que me irriga a cabeça.

Sobrepasso sobre mim.

Tu. Tudo és tu. A impulsão e uma calma que se juntam.
Que se apoderam de mim ao mesmo tempo. A imperfeição.
Todos os minutos são curtos. Demasiado curtos. Os minutos.
E eu? Eu sou muito pouco. Menos que minutos...

Releio as imagens guardadas na minha cabeça.
Os sentidos, as estradas, os momentos.
Pensamentos, só isso.
Aqui no meu sofá creme, existo, pouco.

Não é mais o meu ser que me fascina. É o não ser.
O não que sou. O prazer de morrer. De não viver.
De não respirar, de não comer. De não amar.
E tudo o que sou faz-me mal.

Fascinado pela dor sem perceber. Sem saber.
É qualquer coisa. Qualquer coisa...
Há quem lhe chame viver. Eu, chamo-lhe dor.
Estou viciado em viver o meu não que sou.

Se por entre a chuva me conseguires ouvir.
Sou eu, que murmura o teu nome.
Voz que não existe, que é muda. Calada.
É creme...

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