28 janeiro 2008

A minha cigarreira é preta

A minha cigarreira é preta.
A minha cigarreira é pesada.
A minha cigarreira é o sítio
Onde guardo os cigarros.

A minha cigarreira, está vazia.
Oca. Sem os canudos de erva
Seca. Sem os filtros. Sem o cheiro.
A minha cigarreira é fria.

E depois é preciso ter cigarros
Para a encher. Dezoito.
Nem mais, nem menos.
Menos dois do maço.

A minha cigarreira não a uso!
A minha cigarreira não se usa
Só porque sim! Ela usa-se para
Guardar o que se fuma.

E agora não uso a minha cigarreira.
Já a usei. Muitas vezes. Quando era
Uso fazer uso dela.
Para me lembrar de ti.

Fora com a minha cigarreira!
Por acaso está na minha secretária,
Perto do alcance do meu olhar.
Sei que está ali, mas não.
Não te vou por dentro do meu bolso.

Nego-a, sempre que a vejo.
Desejo-a sempre que a vejo.
E como uma onda do mar
Salgado que se espraia na praia,
A minha cigarreira é um presente do passado.

1 comentário:

borboleta disse...

'Sei que está ali, mas não.
Não te vou por dentro do meu bolso.' Gostei da personificação.

Há presentes, que nos podem trazer boas lembranças. Outros nem tanto. E quando assim o é, falando por mim, desfaço-me mental e fisicamente de tudo o me perturba. Não quero as coisas no meu campo de visão porque me vou lembrar sempre do porquê, e do resto.

Gostei do poema.