26 dezembro 2007

Momentum

Que toda a infinita sabedoria dos Anjos faça cair sobre nós a Luz.
Que toda a beleza do Universo apague o horror.
Que toda a força esquecida surja entre nós.
Que o caminho seja seguro e iluminado.

Trovões do Olimpo caem.
Ferozes lutas.
Pelejas entre os Maiores.
E da água como espelho veremos o céu.

Tarda o tempo.
Acalma-se o corpo.
O sangue é um só corpo,
Em ideias realizado.

E será trazida pela Graça
A ajuda que esperamos.
Tomara sabermos escrever
Com a pena que nos sobra.

A minha pele, o exterior

A minha pele, o exterior
Do meu corpo, é fina.
Não sei como não rebenta,
Com todas as convulções internas que sinto.

Não sei como não se desfaz simlesmente,
Como a cinza de um cigarro que cai no chão.
Está colada à minha carne.
É infinitamente estúpida a minha pele.

Incorre em barragem de mim, do meu sangue.
Um vedante que já trazia de nascença.
Um selo de lacre que a carta fecha.
Esta pele que me deixa inteiro.

A pele deixa-me não fluir pelo chão.
Não me esvair e partir.
A minha pele é estanque.
Ela tem um sentir que me transcende.

24 dezembro 2007

Pedrinha no sapato

Sol. Uma manhã de fim de semana e uma claridade fria estampava-se nas paredes dos prédios que rodeavam o jardim. Árvores. Relva. O ar estava limpido e puro como a água fria da nascente. No jardim poucas pessoas, apenas se conseguia escutar o som do vento a bater nas árvores e os pássaros que voavam por entre as árvores.
Num banco do jardim, perto da estátua de Cronos, estava deitado um homem. Vestia fato completo, sapatos pretos e camisa preta com gravata preta. Por cim ado seu corpo, que o cobria, uma gabardina cinzenta. No chão o chapéu que caira durante o príncipio do sono. Os raios de sol lentamente aproximam-se da sua cara. Com o corpo em metade coberto pela luz solar, o homem sem abrir os olhos sente que já é dia e começa a sentir o seu corpo imóvel e gelado. Do acto de pensar levantar-se e da passagem ao mesmo não levou mais do que menos de trinta segundos. Sentou-se. Colocou os óculos e viu onde tinha pasado a noite. O jardim era o mesmo mas com sol. Levanta-se e veste a gabardina. Sente os pés frios colados aos sapatos italianos que lhe estavam apertados.
Sede. Procurava com os olhos, sondava o jardim na esperança de encontrar um bebedouro para se saciar. Boca seca, andar languido e com os olhos semi abertos, vai tentar descobrir o caminho para sair do jardim. Dinheiro não era problema, a carteira tinha duas notas de vinte. E lá vai ele, mãos nos bolsos da gabardine para escapar ao frio que o apanhava.
Até agora não encontrara ninguém na sua caminhada. Sozinho demanda o caminho para sair de onde está e chegar ao destino, a saída. Após longo tempo passado, dá de caras com um portão portentoso. Aberto. A saída.
Resolve então ir ao café mais próximo para tomar o pequeno almoço e ler o jornal do dia. Um galão com dois pacotes de açucar e uma torrada mista acompanhadas pelas notícias matutinas, fazem-lhe companhia durante meia hora. Ainda sentado no café sente que têm uma pedra no sapato, uma pedrinha do jardim. Vai à casa de banho resolver o problema.
Passando diante do portão do jardim repara que no alto do mesmo se encontra a frase: "E, Por Aqui Passas". Realmente a frase fazia todo o sentindo, embora um tanto ou quanto básica na sua percepção. Claro se é um portão as pessoas tem que passar por ali... pensou o homem. Mas ele não tinha entrado no jardim por aquele portão, na noite anterior entrara por um outro portão. E sendo curioso por natureza resolve indagar a questão.
Depois de caminhar no labirinto dos caminhos do jardim, encontra o portão que procurava. No alto do portão estava a frase: " As Pedras No Caminho Falta Te Fazem".
(...)
De facto não tinha pensado na hipótese de ter entrado pela saída do jardim na noite anterior, pensou. Tudo tem um príncipio e um fim, a parte de cima e a parte de baixo. Ou seja tudo tem o seu contrário. E pelo meio muitas pedrinhas vou ter que tirar do meu sapato.
Virou costas, um gato olhava para ele pela janela de um rés-do-chão do prédio em frente ao portão. Olhou para o céu e viu a lua. A lua que aparece por vezes ainda quando há sol. Tira um cigarro da sua cigarreira, fuma um, enquanto se afasta do jardim onde dormira.
De repente lembra-se da pedrinha que tirara do sapato. Vai com a mão ao bolso interior do casaco e agarra-a.

23 dezembro 2007

Parece

Parece que está na altura da negação como já aconteceu no passado. Negar que o que sinto por ti não é nada mais do que um sentimento que não é amor. Apenas um desejo carnal e egoísta da minha parte. Nunca sei como ultrapassar a perda de alguém que amo, por quem tenho paixão, desejo. Por outro lado sinto-me liberto das amarras dessa paixão, que não me deixavam largar do cais de onde estava. Navego com a terra à vista com medo do alto mar. Navego com os olhos postos nos cais onde já estive ancorado. Há sempre tempo para largar o leme e deixar-me ir para o largo e navegar em alto mar. Esse tempo irá chegar como sempre chegou. Agora é tempo de me recompor, de olhar em volta e acalmar o sofrimento que existe.

19 dezembro 2007

La sua faccia


Por ti

Por ti
Subi uma montanha.
Deste-me a visão clara do chão.
Estou no seu cume. Vejo o que me deste
E o que me dás.

Só me resta aguardar a queda.
Enquanto isso, procuro respirar o ar puro.
Olhar o horizonte que me ajudaste a ver.
Temos o que construimos.

Espero ter força para continuar
A tarefa de construtor.
Para ti um ramo de rosas puras.
De magia seguras.

Estamos juntos. Sabemos o que
Somos.
E sem o materialismo que queria,
Tenho-te assim...

Protecção. Afastamento.

Protecção. Afastamento.
Medo do que sabemos.
Estás cada vez mais retraída.
Como uma menina perdida.

Eu sobro em divagações,
Pensativo e já naturalmente
Desléxico nos sentimentos,
Sosobro nas atitudes.

Disfuncional e racional,
Tento catapultar o que sinto
Para um quadro racionalizador
Do real. Meço forças.

Interiormente. Tudo parece claro.
Já não te amo como amava.
Amo-te como te amo.
Sem te amar de verdade.

17 dezembro 2007

Tomara eu saber amar

Tomara eu saber amar. Tomara eu saber o que é o amor. Caio dia a dia no poço da ilusão de que a vida tem um sentido. Não ter sentido é o sentido que retiro dela. As lembranças que tenho são fugazes e trémulas. O que sentia ontem já não é o que sinto hoje. Todos os meus amores se desvanecem na memória pequena. Tenho essas memórias nos meus braços, embalando-as para que adormeçam silenciosamente, sem sobressaltos. Não quero reviver com tristeza as memórias do que passou. E com tantas mulheres que me ficam na memória pequena, nenhuma é neste momento o cálice por onde bebo.
Sinto desejo, talvez até amor. Mas nenhuma está a minha frente. Nenhuma pode dizer que me tem. E não as tenho tambem. Vivo com elas uma vida de memórias. As memórias do que se passou entre nós.
Agora estou sozinho. Recordo os meus amores e as paixões. Relembro as emoções. Só isso me resta agora.

16 dezembro 2007

Uma bomba faz tique-taque

Uma bomba faz tique-taque.
Está dentro de mim.
Tique-taque, tique-taque...
Tique-taque, tique-taque.

Porque a puseste dentro de mim?
Como a desligo? Como?
E se a desligar irei morrer?
Ou irei renascer novamente?

Ouves o barulho dentro de mim?
Tique-taque, tique-taque.
Não meço a realidade do som.
Não me enfureço com a sua presença.

Está comigo esse som.
Essa coisa que se chama paixão.
Tenho uma bomba dentro de mim.
Tique-taque, tique-taque.

12 dezembro 2007

Tudo o que penso não escrevo

Tudo o que penso não escrevo.
Não tem espaço. É como o aço,
Pesado, simples, real.
Não cabe no branco do papel.

Caberá nas páginas de um livro
Que não irá ser escrito.
Cabe no meu pensamento
E no teu.

E as palavras que já sabemos,
Os sentimentos, as razões, as evocações.
Tudo são palavras que não escrevo.
Mas que sinto. Que vivo.

Sem palavras para escrever,
Só me resta respirar o ar.
Que tem o teu cheiro.
E qualquer coisa de belo.

09 dezembro 2007

Mais ou menos

Mais ou menos.
Estou mais ou menos.
Como um cão deitado sobre um tapete.
Diante da porta que guarda.

Deito o dente de fora para quem passa.
E rosno um rosnar já conhecido.
Como se estivesse de mau humor
Por estar com uma valente gripe.

E este mau humor, esta cobarde atitude
De me tratar parece ser o que me resta.
Qualquer palavra não tem sentido agora.
Parece que o resto não convence.

Passo a mão pela minha barba.
Desmazelo. E quero não querer.
A saudade e a esperança unem-se.
E deixo de querer.

05 dezembro 2007

Message in a botlle to all visitors

Well this is a message that i want to leave for all of u who can't read portuguese. This blog is a kind of trunk where i wright some poems and it's also where i can reflect about my simple life.
Beware the videoclips that are offten added to my vodpod... and don't forget to clik on the last-fm radio...
Enjoy the blog, and if u have any question just e-mail me.
Thank's!

04 dezembro 2007

Sobram as horas...

Sobram as horas, as demoras,
Sobram os desencontros.
Sobram também os feitos,
Os vicíos e as memórias.

Demoram-se em voos rasantes os passáros,
Que ondulantes navegam junto as nuvens.
Entediados do seu vôo abrem os olhos de tédio.
Gritam de pavor de voar, o vôo delirante.

E sobram-lhes as horas e o resto.
Atávicos e loucos em bandos,
Voam para um destino inexistente.
Um destino que só o será, que não o é.

Em pânico olham para baixo.
Com todo o tempo de voar,
Permanecem imcompreensivelmente
De asas abertas a planar. A mais.

Os dias cinzentos de nada

Os dias cinzentos de nada.
Tudo é efémero.
Tudo é pouco,
Muito pouco.

E esta consciência calma.
Esta percepção implicativa
Mante-me acordado diariamente.
Faz-me sentir ainda o ar.

Tudo parece menos.
Nem os olhos parecem os mesmos.
Vejo tudo com outro olhar.
Olho mais devagar.

Passo diante de nós e vejo-nos
diferentes. Duas espécies diferentes.
E tudo parece menos, tudo é o resto.
Tudo é só o que tenho.

03 dezembro 2007

Adormeceste...

Adormeceste...
Com os cobertores a taparem a tua cara.
Com o frio a rondar a tua cama.
Adormeceste mais ou menos.

Deitaste a cabeça na almofada,
Puseste a mão por baixo dela,
E encolheste as pernas.
Pensavas em mim?

Adormeceste um sono claro.
Um sono raso.
E o teu pensamento vagueou
Por entre as límpidas memórias de nós.

Vou adormecer também, mais ou menos.
Tenho-te agora. Tens os olhos fechados.
Dormes imóvel. Sonhas.
Adormeceste.