27 julho 2007

Escafandrista

Tinha que apanhar um táxi. Estava o tempo abafado sem um brisa de ar. Entrei e logo comecei a falar com o taxista. Tempo abafado, disse eu. Ele disse que era por causa da maré naquele dia. Não tendo percebido a razão questionei se ele era pescador. Disse-me que não. Que sabia essas coisas por ter passado muito tempo na marinha como mergulhador. Estava praia-mar, nem a encher nem a vazar por isso não havia vento. Logo tive tema de conversa. Disse-me que a marinha portuguesa tem um grupo de mergulhadores prontos para enfrentar qualquer eventualidade. Lembrei-me imediatamente de um filme onde entra o Robert de Niro e Cuba Gooding Jr chamado Men of Honour. Nesse filme em paralelo com a emocionante história, percebemos como a instrução de um escafandrista militar é puxada e dura. Por vezes no limite da dor, quer seja ela fisíca ou psicológica. Montar peças debaixo de água e desmontar. Eram eliminados se perdessem uma porca ou um parafuso. Todas as garrafas de ar eram disponibilizadas para o mergulhador tentar encontrar o que tivesse perdido.Mas o melhor era não perder mesmo.
Fiquei a saber que o terceiro submarino da nossa esquadra se chamava Delfim, juntando-se ao Albatroz e ao Barracuda. Todos para abater, a espera dos dois já encomendados.
O taxista falou-me dos testes em piscina onde era colocada uma garrafa de oxigénio no meio e uma em cada canto da piscina. O teste consistia em passar por todas as garrafas sem utilizar a do meio. Se assim fosse era eliminado. Também era eliminado se viesse a tona de água. Difícil pensei eu. Pois é. Mas para baralhar as contas não estava sozinho dentro da piscina. Atrás dele estavam mais dez colegas de curso a fazer a mesma coisa. Enchiam os pulmões de ar numa garrafa e seguiam para a próxima. Não se podiam demorar em cada golfada de ar porque se assim fosse, menos ar tinham os camaradas que vinham logo atrás. O espírito de camaradagem aqui fortalece-se. Incrível pensei eu. Esta prova de facto parecia-me muito dura. Mas como não chegasse o taxista disse que passou por uma muito difícil. Noite, sem saber a prova que iriam fazzer. Entraram no zebro ( bote dos fuzileiros) até não se ver a costa. Dez no barco com os fatos de mergulho e barbatanas. Saltem! Vinte e quatro horas a nadar. A comida e água era fornecida e sempre acompanhados pelos camaradas nos botes. Passou. Fez várias comissões. Não arranjou trabalho na área porque a dez anos atrás não existia mercado virado para as coisas do mar. Agora já vai havendo mas mesmo assim pouco disse ele. Hoje é taxista.


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